Maracás (BA) – A dor da perda do jovem Elves, 22 anos, mistura-se com revolta e uma acusação grave: sua família responsabiliza publicamente a página "Fala Maracás", um perfil anônimo e não identificado nas redes sociais, pelo agravamento do estado de saúde mental do rapaz, que culminou em seu falecimento após internação no Hospital Costa do Cacau.
Elves, descrito por familiares e amigos como uma pessoa "irreverente, alegre, trabalhador e sempre disposto a ajudar", havia realizado o sonho de retornar a Maracás, sua cidade natal, após anos trabalhando fora. O retorno às raízes e à família, no entanto, foi ofuscado por um período de intenso sofrimento.
Conforme relatos colhidos junto a pessoas próximas e divulgados em texto de despedida, Elves foi alvo de uma série de ataques virtuais. Sua vida teria sido "exposta e atacada" sistematicamente por meio de um perfil fake nas redes sociais, identificado pela família como a página "Fala Maracás". A exposição pública, a difamação e a violência digital são apontadas como fatores decisivos que impactaram profundamente seu bem-estar e contribuíram para o agravamento de um quadro depressivo já existente.
"Ele relatou a pessoas próximas o quanto aquela situação o abalava. Ver sua honra e sua vida sendo destroçadas publicamente, sem poder se defender de autores anônimos, foi uma tortura", declarou um familiar que preferiu não se identificar, por medo de retaliações. "A página 'Fala Maracás' agiu como promotora, juíza e carrasco, sem qualquer prova ou direito à defesa. O resultado disso está agora no nosso luto."
O caso expõe a face mais cruel do fenômeno das páginas de "fofoca" ou "denúncias" anônimas, que se proliferam em cidades do interior, onde o tecido social é mais sensível. Operando na sombra da internet, esses perfis frequentemente disseminam boatos, expõem vidas privadas e promovem humilhação pública, com poucas ou nenhumas consequências legais para seus administradores.
A família de Elves é taxativa em sua atribuição de responsabilidade. Eles afirmam que a conduta da página "Fala Maracás" não foi apenas um deslize de rede social, mas um elemento catalisador de uma tragédia anunciada. A depressão de Elves, agravada pelo assédio digital, exigiu internação para tratamento médico, caminho que infelizmente não evitou o desfecho fatal.
"A violência digital mata. A difamação anônima destrói. O caso do Elves não é um incidente isolado, é um homicídio moral que teve consequências fatais", acusa outro familiar. "Enquanto páginas como a 'Fala Maracás' existirem e operarem impunes, outras vidas estarão em risco. Exigimos que as autoridades identifiquem os responsáveis por trás dessa página e que sejam responsabilizados criminalmente."
A Polícia Civil já foi notificada sobre o caso e a família busca orientação jurídica para levar adiante uma ação contra os administradores (ainda não identificados) da página "Fala Maracás". A investigação deve se concentrar nos links entre os ataques sofridos por Elves e o agravamento de sua saúde, além da identificação dos responsáveis pelo perfil.
Procurada para comentar as acusações, a página "Fala Maracás" não se manifestou publicamente até o fechamento desta reportagem. É comum que perfis do gênero não tenham representantes identificáveis.
A morte de Elves deixa um legado de dor, mas também um alerta severo para a comunidade de Maracás e para a sociedade como um todo. Questiona-se até onde vai a "liberdade" de perfis anônimos e qual o preço – agora medido em vidas – que uma cidade está disposta a pagar pelo entretenimento malsão proporcionado por páginas de difamação.
Enquanto familiares e amigos se despedem do jovem, relembrando sua "espontaneidade e bondade", a pergunta que ecoa nas ruas de Maracás é uma só: Quem responde pela morte de Elves?
LEGADO E LUTO
O texto em homenagem a Elves conclui: "Que a memória de Elves permaneça viva entre nós, com afeto e respeito." Um pedido que soa também como um dura reprovação à cultura do ódio e da exposição sem consequências que, na visão de seus entes queridos, roubou-lhe a paz e, por fim, a vida.
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